Quem escreve isso comprou sua última webcam – uma Logitech C920 HD, para ser mais preciso – em 2021, ainda com os ventos da pandemia. As necessidades derivadas do teletrabalho incentivaram-me a aposentar de vez o modelo que usava até então, também da Logitech, mas bem mais antigo, com menos prestações, e cujo banimento para a arrecadação vinha adiando há algum tempo. O meu não é um caso especial. Não é uma raridade. Seja pelo boom do teletrabalho, por passarmos mais tempo em casa ou por uma maior disponibilidade de dinheiro, muitos de nós decidimos encher o carrinho de apetrechos tecnológicos.
O “problema” é que, à medida que o COVID-19 diminui, aquela lei indefectível de que tudo que sobe acaba descendo é cumprida. E isso já é bem perceptível nos balanços das empresas. E, claro, vendas de webcams.
O que dizem os dados da Logitech? O último balanço da empresa suíça, referência em periféricos, é bastante ilustrativo de como a demanda está evoluindo. Os resultados do último trimestre de 2022 mostram que suas vendas caíram 22% em relação ao mesmo trimestre do ano fiscal anterior.
Suas tabelas mostram que “picaram” a comercialização de áudio e wearables (-34%), alto-falantes portáteis (32%), teclados (22%) e dispositivos como mouses (14%). O maior golpe de todos, no entanto, foi sofrido pelas webcams de PC, que caíram 49% no mesmo período. No total, se forem levados em consideração os últimos nove meses de 2022, a Logitech experimentou uma queda de 16% nas vendas líquidas ano a ano, dados que também incluem, especifica a Ars Technica, receitas derivadas de transmissão.
Dados do balanço mais recente da Logitech.
E de onde viemos? De um cenário bem diferente. Em maio, por exemplo, a Logitech anunciou que durante todo o ano fiscal que se encerrava — de abril de 2021 a março de 2022 — havia registrado vendas recordes. Em abril de 2021, os responsáveis também falaram de uma demanda vertiginosa, com um aumento de vendas de 76% em relação ao ano anterior. Foram os meses da pandemia e dos confinamentos e o cenário era diferente do que agora enfrentamos, marcado, reconhece a própria Logitech, por inflação e corte de gastos.
¿Le pasa apenas para Logitech? Em absoluto. O período da “vaca magra” afeta também outras empresas do setor, que se dedicam tanto à comercialização de periféricos como a outras atividades. Também não foi a única que viu a sua procura aumentar durante a pandemia, o que levou algumas empresas a dotarem-se de recursos que já são excessivos e pesam nos seus balanços financeiros.
A Amazon, por exemplo, anunciou a demissão de 18.000 trabalhadores, na Microsoft fala-se em 10.000, na IBM 3.900 e no Spotify 600. A Corsair, outra grande fabricante de periféricos, como a Logitech, deixou dados igualmente interessantes em novembro: seu faturamento no segmento foram de $ 96,8 milhões, acima dos $ 89 milhões no trimestre anterior. O aumento é perceptível, mas está longe do que foi notado nos exercícios anteriores.
O desafio de convencer os clientes. Ao deslizar na Ars Technica, um dos grandes desafios do setor passa por mobilizar os seus clientes após a onda de compras dos últimos anos, convencendo-os de que os produtos que podem oferecer hoje fazem realmente a diferença face aos que compraram em 2020 ou 2021.
O desafio não é fácil, claro. A demanda por webcams nos estágios iniciais da pandemia – que o Yahoo Finance chegou a estimar em um aumento anual de 179% – foi tão pronunciada que chegou a alertar para o risco de escassez. Agora o cenário é bem diferente, marcado pela queda geral da demanda e também pelo fim da expansão do teletrabalho ou sua queda direta.
Além das webcams. Como refletem os próprios dados da Logitech, a tendência não é exclusiva das webcams. O Gartner estimou recentemente que as remessas globais de PCs totalizaram 65,3 milhões de unidades durante o quarto trimestre de 2022, uma queda de 28,5% em relação ao quarto trimestre de 2021. nível, a queda foi de 16,2% em relação a 2021.
Imagem de capa: Emiliano Cícero (Unsplash)