A Europa quer acabar com a exclusividade da informação. Com a nova Lei de Dados, a Comissão Europeia apresentou hoje a sua proposta para estabelecer novas regras sobre quem pode utilizar os nossos dados, aceder aos mesmos e para que finalidades. UMA regulamentos que não se aplicam apenas a empresas de tecnologiamas a todos aqueles que usam os dados, desde empresas automobilísticas a empresas farmacêuticas ou empresas agroalimentares.
A Lei de Dados inclui várias medidas, incluindo a forçar as empresas a compartilhar seus dados com terceiros. Alguns dados que, segundo seus cálculos, terão um volume mundial em 2025 de até 175 zettabytes. Uma quantidade enorme, cinco vezes mais do que em 2018.
Como já podemos antecipar, esses dados são muito valiosos para todos os tipos de empresas. Conforme explicado pela Comissão, a análise de dados em tempo real permite que setores como os transportes, a construção e a indústria economizem até 20%. Os dados são um maná para a economia e da União Europeia eles apresentaram uma nova lei para especificar mais uma vez como as coisas devem ser feitas em solo europeu.
Quais benefícios essa nova Lei de Dados trará para o usuário
A Lei de Dados (2022) é um avanço em relação à Lei de Governança de Dados de 2020, que, embora estabelecesse alguns pontos para facilitar a troca de dados, não era tão ambiciosa.
A ‘Lei de Dados’ permitirá os usuários têm acesso aos dados gerados, que muitas vezes são coletados exclusivamente pelos fabricantes. Em outras palavras, a lei estabelece que os usuários devem poder baixar nossos dados e que esses dados devem ser compartilhados com terceiros para fornecer serviços baseados nesses dados.
Tomemos o exemplo de um serviço pós-venda ou reparo. Atualmente, apenas o fabricante pode acessar os dados e a outra empresa não tem escolha a não ser passar por eles para reparo. Com a nova Lei, o usuário poderá solicitar que um serviço de reparo mais barato também possa acessar os dados. Não é difícil imaginar tal caso em serviços de reparo de celular (para recuperar cópias de backup) ou no carro (para mantê-los na configuração que tínhamos).
Outro exemplo de acesso a dados é a comparação. Atualmente não é possível terceirizar a análise de dados de diferentes equipes uma vez que estes só são acessíveis por cada um dos fabricantes. No futuro, segundo a Comissão, será possível receber aconselhamento personalizado de uma empresa que recolhe dados das diferentes equipas. Hoje, para muitas empresas, esses dados são uma vantagem competitiva. O objetivo é que uma empresa não seja melhor que outra apesar dos dados que possui, pois em princípio estes devem ser compartilhados.
O último caso que nos explicam é o do dono de um bar e da empresa de café. Atualmente apenas a empresa do refeitório pode acessar os dados da máquina. A ideia é que ambas as partes, tanto o dono do bar quanto a empresa de café podem acessar os dados coletados pela máquina.
Até que ponto isso será cumprido? Aqui vem a parte complicada. Neste momento, a Lei de Dados tem de ser aprovada pelo Conselho e pelo Parlamento Europeu, podendo ainda faltar vários anos até à sua implementação. O documento afirma que “a compensação acordada entre um proprietário de dados e um destinatário de dados para disponibilizar os dados será razoável”, sem especificar quais dados devem ser compartilhados. Uma linha tênue que, como já fizemos com o caso do Google Analytics, irá gerar, previsivelmente, muitos debates e casos em aberto.
Quanto ao impacto nas próprias empresas, a Comissão explica que terceiros que tenham acesso a esses dados poderão compensar a empresa original. Também são definidos salvaguardas para evitar situações em que os dados sejam usados de uma forma que afete negativamente o fabricante. Isso inclui desde o uso de dados para gerar um concorrente até quando esses dados são usados sem uma base adequada.
Adeus cláusulas abusivas e acesso por serviços públicos
Além do acesso aos dados e da interoperabilidade, a nova Lei de Dados trata de outras questões. Acrescentam-se medidas para evitar o abuso de “desequilíbrios contratuais nos contratos de intercâmbio de dados”. Quer dizer, A Lei de Dados irá cobrar que cláusulas abusivas e abusivas não são vinculantes. Paralelamente, a Comissão informa que apresentará um modelo de referência ao criar essas políticas de privacidade.
Os dados que as empresas possuem são de grande valor e em situações excepcionais podem ser considerados de interesse público. É o caso de inundações ou incêndios florestais. Nestes casos de emergência, as administrações públicas poderão aceder a determinados dados das empresas, em condições essenciais. Será necessário ver como esse ponto é definido, pois pode ser fonte de conflito e abuso. Um dos exemplos que colocam são os estudos baseados em dados de localização agregados durante a pandemia, como o estudo do INE.
Relacionado à interoperabilidade, o Data Act promove a facilidade de mover dados e aplicativos (de arquivos de fotos a administrações de negócios inteiras) de um provedor para outro sem incorrer em custos. Em outras palavras, a Lei de Dados estabelece que as empresas devem facilitar a transferência de dados de um site para outro. Ligue-se do Google Fotos para a Amazon ou Apple, mas não apenas com as fotos, mas com todos os tipos de dados. Já vimos avanços nessa direção com protocolos como o Matter, mas ainda há um longo caminho a percorrer, por exemplo, em assistentes de voz.
“A nível técnico, ainda há muito por fazer”
Enquanto aguarda um novo acordo com os Estados Unidos como o apontado por vários especialistas como resultado do caso do Google Analytics na França, a proposta da Comissão Europeia vai na linha de reforçar o uso da nuvem europeia. A Lei de Dados introduz obrigações para impedir que nossos dados sejam enviados ilegalmente para servidores dos EUA.
Elena Giladvogado especializado em big data, privacidade e proteção de dados, explica a Xataka que “o padrão tenta promover a interoperabilidade de bancos de dados, que é fundamental para poder compartilhar dados de forma eficaz, mas não cria uma obrigação. É uma finalidade que já está contida em outras regulamentações, como as de dados pessoais. A nível técnico, neste momento há muito a melhorar.”
“Esta é mais uma peça do quebra-cabeça regulatório com o qual a UE pretende atualizar sua legislação para promover a inovação e proteger os direitos dos cidadãos. Dada a avalanche de novos regulamentos, diretrizes e resoluções, como isso funciona na prática é algo que só pode ser visto com o tempo“, antecipa Gil. A Comissão Europeia está ciente do impacto dos dados na economia e esta Data Law é mais um movimento para controlá-lo. eles gerenciam nossos dados.
Imagem | Bernard Hermant